Matéria Sobre Teatro Documentário
na Folha de S. Paulo
17 de Novembro de 2010

Norte, Sul, Leste, Oeste.
Tínhamos a ilusão que coubesse na mão.
O real agora é real-virtual.
Antes tarde do que nunca.
Estavam compartilhando um pouco de São Paulo com a gente, agora é a vez de compartilhar com vocês.
Abraços,
Cia. Teatro Documentário
Pesquisa de campo na ZS
Nosso norte na Sul: do Paraíso ao Sacolão das Artes
Cruzar as pontes que margeiam os grandes centros comerciais da grande metrópole.
Desensacolar contrastes: num dia inteiro, sentir a quentura do sol e o frescor da água da chuva
contemplar a imensidão de um rio malcheiroso
a magnitude do soberbo centro comercial
a beleza sem photoshop que retrata da menina da favela sem retrato
o cheiro desperfumado de gente
a textura desagradável da realidade nos causando arrepios de calor
comer feijão de corda, carne seca e pra descer melhor toda a paisagem: uma breja gelada
uma parada na casa da ex-militante falante, dona Maria
uma conversa com o negro que encabeça a batucada da vida, o samba (sem?) poesia, sem espetáculo
um café bem passado no Sacolão
uma via-sacra tão bem conduzida
um fragmento de vida dura
outro de vida mansa
uma São Paulo Zona Sul sob um bravo olhar,
um bravo caminhar
uma brava companhia.
Recepção teatral e o veto ao modernismo na obra de Oswald de Andrade
Oficina compartilhada na ZO
Aconteceu no espaço Pyndorama a palestra que pretendia proporcionar estudos teóricos e reflexão de comum interesse para os dois grupos de teatro, além de fortificar laços e proporcionar maior pensamento teatral para as produções na cidade de São Paulo. Os presentes eram os integrantes de ambos os grupos.
Giuliana Simões falou sobre história do teatro, porem com a perspectiva dos fracassados, conhecemos a história pelos vitoriosos e assim é no teatro também, os grandes textos, os sucessos de bilheteria, as grandes cias. do passado, entretanto desconhecemos o que foi tentado e não efetivado, ou melhor, efetivado, mas não nas graças do público a ponto de ser encenado, criticado, bem criticado e registrado.
Quando uma obra não é bem aceita pela platéia em algum tempo histórico, provavelmente é porque ela entra em confronto com o que Jauus nomeia por Horizonte de expectativa. Significa dizer a respeito de um padrão esperado e cultivado no tempo histórico em questão e pela classe dominante.
Mesmo na recusa a idéia é que o objeto artístico saia da experiência privada seja na caixa preta do teatro, seja no museu, seja na música apreciada e vá para a vida pública, retorne para a sociedade pela conscientização do espectador ou pelas novas posturas praticadas por ele ainda que inconscientes.
“A cartografia de vera ou 1,2,3 respira”
Intervenção Cênica na Zona Oeste
Cenas de teatro
Cenas de vida
Vidas em cena.
Um encontro para cenas, vida e teatro
Vera, uma mineira paulistana, traz consigo a contradição da cidade: mesmo na aparente lentidão é impelida a seguir valores de um sistema ágil em criar necessidades de consumo.
“Eu queria ser como codorna, ia pra frente e nunca olhava pra trás. Andava e sumia.
Outra coisa que eu queria ser é motorista de taxi, porque quando alguém dá sinal, ele nunca sabe pra onde vai... Pode ir pra zona norte, zona sul. Pode ir até ali só.”
“Lica era uma cachorrinha que sabia atravessar as ruas
Conseguia distinguir a luz vermelha da verde do semáforo.
Andava por todo bairro de pinheiros”
Quem conta um conto... (ver convite)
Nossa Oficina na Zona Oeste
No meio do caminho havia uma pérola. Duas. Três.
Quais as histórias que a gente enterra no peito e se engasga na hora de contar? Que tempo é esse que nos inviabiliza pro outro?
Escutar histórias da Dona Mariquinha, avó de Vera, que fazia pudins mágicos roubados pelas netas; escutar o constrangimento daquela que se borrou de vontade no meio da rua e sentiu o cheiro que ninguém sentiu; saber da tia que teve o noivo enforcado e quebrou a costela da vizinha com um paralelepípedo; a ligação pra Machado de Assis e a ida ao livro de contos para paralelepipedar, a história contada de um jeito confuso, mas que nasceu numa festa de São João e teve a lua como personagem central.
Documentar o que ninguém pergunta mais é o que faz o baile acontecer numa sala acolhedora iluminada pela lâmpada incandescente do afeto de agorinha.
Uma quinta feira bem cedo, dia nublado, risco de chuva. Chegamos no espaço Pyndorama para encontrar com Tiago, Claiton, Renata, dentre outros membros da Companhia Antropofágica, de lá tomamos o nosso rumo e fomos conhecer a Zona Oeste de São Paulo.
Tendal da Lapa
Estação lapa
- Onde é a sua casa?
- Minha casa é a rua, eu moro na rua.
Pirituba, Perus
- Subam aqui! Podem entrar, vamos conversar.
Cemitério Dom Bosco
Fim de tarde
Musicalização: Exploração de possibilidades sonoras nos objetos cotidianos
Oficina compartilhada na ZN
Danilo Monteiro foi quem nos propôs a oficina. Ele é músico, poeta e jornalista. Graduado em Jornalismo pela ECA/USP e Mestre em Letras pela FFLCH. E integrante do “Dolores”, grupo parceiro na Zona Leste.
tempo
“PRA VOCÊ NÃO ESQUECER”
Intervenção Cênica na Zona Norte
Cenas de teatro
Cenas de vida
Vidas em cena.
Um encontro para cenas, vida e teatro
“José Guilherme mirou o alvo
Disparou o coração
Disparou o olhar malandro-carioca-paulista
pra moça bonita caipira de Itajubí”
“Ana Carolina não é Carol.
Felipe não é Fê”
Quem conta um conto... (ver convite)
Nossa Oficina na Zona Norte
Dedo de prosa e ao sabor de café começamos a lembrar do passado, dos avôs, dos imigrantes, das ruas da zona norte, do rio Tietê, dos bondinhos, do famoso trem das onze, de como era e de como é a zona norte da cidade, e de como seus moradores eram e como ficaram com os abraços dados pelo tempo e pela modernidade que tende a esquecer e a ignorar a história.
A memória tornava-se cena, tornava-se protagonista, tornava-se presente
Seu José Guilherme e sua esposa Sônia logo se interessaram pelo projeto e esse foi o nosso casal documentado representando a zona norte da cidade de São Paulo. A zona norte passa pelo olhar e pelo sentir dessas pessoas.
Pesquisa de campo na ZN
Encontramos com Cida, Claudia José Budda dentre outros integrantes numa travessa da Avenida Imirim, muito próximo ao cemitério "Chora Menino".
Eis que tivemos uma surpresa, 80% da apresentação foi feita de dentro dos automóveis, andar sobre rodas por inúmeras ruas e avenidas da Zona Norte. O olhar desse grupo foi justamente esse: a cidade de dentro do carro. Paramos poucas vezes pra realmente descer e pisar em terra firme.
A Zona Norte de São Paulo geograficamente não deveria fazer parte da cidade de São Paulo, uma região avulsa ao norte do rio Tietê. Há algumas décadas atrás não tinha ligação com o centro, muito menos com as outras regiões. Não existiam pontes, o transporte coletivo era ainda mais decadente, o rio literalmente desmembrava uma parte da cidade.