A lógica da desordem: quem controla a cidade?

Uma noite com Radial Leste e Ermínia Maricato



Ermínia afirmou que as nossas cidades (principalmente São Paulo) estão ficando inviáveis. A indústria automobilística: a principal responsável. Essa atividade econômica responde por 20% do PIB mundial, e se colocarmos a exploração de petróleo, toda indústria de borracha, de autopeças, essa porcentagem aumentará!!!! A ordem do mercado direcionou as obras nas cidades segundo as necessidades de infraestrutura para o carro andar. Observamos um processo, não mais silencioso, que desumaniza a cidade e a prepara para seus reais habitantes: os carros.

Na sua explanação, Ermínia citou Jane Jacobs que em 1961 publicou Morte e Vida das Grandes Cidades Norte-americanas, abalando os princípios do urbanismo e do planejamento urbano moderno. Essa referência veio ao encontro do debate em comum feito pela Cia Teatro Documentário e pelo Dolores. Para Jacobs, não foram as drogas nem a televisão as principais responsáveis pelo desaparecimento da vida comunitária, mas o automóvel. A modernização por meio da renovação urbana destruiu comunidades ao arrasar bairros antigos para a passagem de avenidas e rodovias.

O planejamento e o desenho urbanos, classificados por Jane como ortodoxos, são objeto de uma crítica radical. Segundo a autora, eles são responsáveis pela “Grande Praga da Monotonia” que assola espaços monumentais, padronizados, vazios, sem vida ou sem usuários, enfim verdadeiras “cidadelas da iniquidade”. Trata-se da “anti-cidade” ou da “urbanização inurbana”, fruto de uma pseudo ciência que é incapaz de olhar para a cidade real e aprender as muitas lições que ela pode transmitir a cada instante. Desprezam a vitalidade urbana e a interação entre os usos para se fixar em fronteiras formais.

As calçadas (que devem ser largas) podem ser mais importantes do que parques para as atividades das crianças, pois “espaços e equipamentos não cuidam de crianças”. O urbanismo ortodoxo atribui às áreas livres uma importância exagerada além de ser inimigo da rua. O grande número de áreas livres previstas nos conjuntos habitacionais não se presta aos encontros, mas ao contrário, freqüentemente à violência. O paisagismo não garante o uso de uma área livre, mas sim a sua vizinhança e esta está condicionada à diversidade e intensidade de usos.

Maricato associou a morte das pequenas lojas à morte das ruas e com ela a da vizinhança.

Silêncio